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Vale a pena investir em touros geneticamente superiores?
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Antônio N. F. Rosa1; Luiz O. C. Silva1; Paulo R. C. Nobre2;
Elias N. Martins3; Fernando P.
Costa1; Roberto A. A. Torres Jr1.; Gilberto R. O. Menezes1;
Carlos E. S. Fernandes4; Mariana A. Pereira1;
Valor relativo do touro na
composição genética do rebanho
Considerando-se um único acasalamento, reprodutor e matriz têm o mesmo
valor, uma vez que cada um contribui com a metade do seu genoma para a formação
de um novo indivíduo. No entanto, ao longo da vida reprodutiva, enquanto a vaca
pode deixar na melhor das hipóteses até oito-dez filhos, o touro pode ser pai
de dezenas, centenas ou até de milhares, dependendo da relação touro:vaca, em
monta natural, ou do uso de inseminação artificial. Além disto, por demandar
menor número de animais para reposição, a pressão de seleção de touros é muito
maior do que a de fêmeas. Por estas razões, pode-se demonstrar que o touro
proporciona de 84% a 88% do ganho genético de todo o rebanho, para relações
touro:vaca de 1:20 e 1:40, respectivamente.
Estimativa do valor econômico do touro: rebanhos de seleção e rebanhos
comerciais
O valor de um touro melhorador pode ser compreendido, de uma maneira
simples e prática, pela análise da variável peso a desmama, que além de apresentar parâmetros genéticos
acurados, pela ampla aplicação de programas de melhoramento, dispõe de um valor
econômico bem estabelecido pelo mercado.
A partir dos dados da avaliação genética da raça Nelore lançada pelo
Programa Geneplus-Embrapa em novembro de 2014 (www.geneplus.com.br), estimou-se
em 3,9 kg a DEP (Diferença Esperada na Progênie) média para o efeito direto a
desmama, considerando-se 157.493 machos superiores de cinco safras (2007 a 2011)
possivelmente ativos, reprodutivamente, em 2014.
Por outro lado, a partir de
dados de cerca de 100 mil animais comercializados, de janeiro a dezembro deste
ano, em Campo Grande, MS, pela Correa da Costa Leilões Rurais (Barbosa, N.,
comunicação pessoal), estimou-se em R$5,00 o valor médio do quilograma de
bezerro desmamado, média de machos e fêmeas (www.correadacosta.com.br).
Assim, com base na definição de DEP, o retorno econômico de cada filho
de um touro superior pode ser estimado em R$19,50 (3,9 kg x R$5,00), quando
comparado aos filhos dos demais touros no âmbito do Programa Geneplus-Embrapa.
Em consulta aos resultados da avaliação genética da raça Nelore lançada
em junho de 2015, na qual foi possível reunir todos os produtos desmamados
durante o ano de 2014, observou-se que a média do peso a desmama nos plantéis
de seleção foi de 215 kg, com informações de mais de 25 mil animais. Por outro
lado, nos rebanhos comerciais participantes dos leilões realizados em 2014,
esta média é estimada em 156 kg, quando se corrigem os dados para a idade
padrão de 240 dias, adotada pelo Programa de Melhoramento para ajuste do peso à
desmama.
O impacto total de um touro selecionado, quando usado em rebanhos
comerciais, portanto, deve levar em conta esta “defasagem” entre os plantéis de
seleção e os rebanhos comerciais.
Numa abordagem mais conservadora que aquela apresentada em artigos
anteriores sobre este tema (Veja Fontes),
considera-se que dessa diferença total (215-156=59 kg) parte é ambiental, ou de
manejo, e parte é devida à “defasagem genética” dos rebanhos comerciais em
relação aos plantéis participantes do programa de melhoramento. Na falta de uma
avaliação precisa do quanto é devido a estes fatores, pode-se supor que cada um
deles seja responsável por metade dessa diferença, ou seja, 29,5 kg. Assim
sendo, a “DEP realizada” de um touro superior quando utilizado em um rebanho
comercial seria: DEP + ½(defasagem genética), ou seja: 3,9 + 1/2(29,5) = 18,65
kg. Desta forma, o valor de um único produto de um touro superior valeria,
nestas condições, R$93,25 acima da média da fazenda (18,65 kg * R$5,00).
Pode-se verificar, portanto, que a renda extra proporcionada pelo uso de
touros melhoradores, advinda da comercialização de bezerros de fazendas
comerciais de 150, 300, 600 e 1.200 vacas (Quadro), com taxa de desmama de 75%
e relação touro:vaca de 1:30, somada ao valor dos taurinos descartados, cobre
totalmente os custos da reposição anual de touros nestas fazendas, com a
aquisição de touros melhoradores aos valores de 60, 70 ou de até próximo de 80
@ de boi gordo, mesmo retendo-se número suficiente de filhas para reposição de
20% das matrizes (Quadro).
No âmbito do Programa Geneplus, com produção de 157.493 machos positivos
em cinco safras e assumindo-se que estejam ativos, reprodutivamente, com taxa
de reposição de 20%, relação touro:vaca de 1:30 e taxa de desmama de 75%,
estima-se um retorno extra de 330 milhões de reais ao ano, apenas pelo
incremento no peso a desmama.
No entanto, o
Programa Geneplus não é o único no Brasil. Considerando-se um total de
aproximadamente 450 mil matrizes Nelore em reprodução nos principais programas
de melhoramento desta raça (PMGZ, ANCP e Geneplus/Embrapa) e confrontando-se
estes dados com os registros genealógicos realizados pela ABCZ em 2013
(Josahkian, L. A., comunicação pessoal), estima-se uma produção total anual de
cerca de 180 mil machos a desmama, candidatos a reprodutores. Admitindo-se que
metade destes animais considerados superiores, com DEP média semelhante à do
Programa Geneplus, cheguem a ser utilizados como reprodutores, com vida útil de
cinco anos, relação touro vaca de 1 : 30 e com taxa de desmama de 75%, o
retorno extra pelo uso destes touros em rebanhos comerciais pode ser estimado
em cerca de 944 milhões de reais ao ano.
Considerações finais
Obviamente, o retorno econômico baseado apenas no peso a desmama está
muito longe de representar o real impacto de um touro melhorador no rebanho.
Uma avaliação mais precisa deveria incluir os reflexos até o abate e sobre o
rebanho de cria, considerando-se os ganhos em peso e qualidade das carcaças e
na qualidade das fêmeas de reposição.
Considera-se, portanto, que o investimento em touros geneticamente
superiores apresenta elevado potencial de retorno econômico, podendo contribuir
decisivamente para a melhoria da produtividade e da renda das fazendas de
pecuária de corte, com seu efeito multiplicador no âmbito de toda a cadeia
produtiva e dos demais setores da economia a ela interligados.
Não basta, no entanto, que o touro seja geneticamente superior. Para ser
melhorador, o touro precisa, antes
de tudo, ser um bom reprodutor.
Assim, além do valor genético, os touros precisam apresentar boa integridade
genital, libido e funcionalidade, de forma que possam, eficientemente,
identificar, cobrir e fecundar as matrizes. Desta forma, a superioridade
genética dos pais será repassada aos descendentes que vão completar o ciclo
produtivo quer na indústria frigorífica, para a produção de carne, quer na
reposição de touros e matrizes dos rebanhos de cria, base do sistema de
produção.
***Artigo revisto em 17 de julho de 2015.
1Embrapa Gado de Corte; 2Programa
Geneplus-Embrapa; 3UTFPR; 4UFMS.